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Falcoaria na Alemanha

Integrante do Falcoeiras BR, Anelize foi à Alemanha para conhecer a falcoaria de lá e também para um encontro de falcoaria! Ela disponibilizou um relato sobre a viagem e também suas fotos!

Através do convite da família Geerdsen, pude participar da Conferência Internacional de Falcoaria da Deutscher Falkenorden (DFO) a maior e mais antiga associação de falcoaria do mundo. O evento

ocorreu em 26 a 30 de outubro no município de Sögel, no complexo palaciano barroco de Clemenswerth um pavilhão construído em homenagem a caça. Os enfeites nas laterais do prédio principal fazem alusão as presas, e técnicas usadas na caça incluindo a falcoaria.

Além de membros e amigos da DFO, participaram representantes da Suíça, Holanda, Bélgica, Escócia, Inglaterra, Noruega, Estados Unidos da América e nós do Brasil.

Nos três primeiros dias do evento, ocorreram as atividades de caça. Cada um dos falcoeiros/caçadores locais possui uma área própria de caça (instituída pelas autoridades) que foi cedida, sob supervisão, aos falcoeiros inscritos no evento.

Participaram 72 falcoeiros junto com 10 águias douradas, uma águia coroada, uma águia marcial, 15 falcões-peregrinos, 23 açores, 21 Harris Hawks além de cães e furões dentre outros.

Logo na entrada do evento podia-se observar o papel importante dos cães de caça para a falcoaria Alemã, diversos animais das mais diversas raças além dos mestiços acompanhavam os falcoeiros com suas aves em punho. Tal como cada ave possuía seu espaço de transporte nos carros dos donos, os cães também tinham uma estrutura toda dedicada aos mesmos. Foi emocionante ver, não apenas os falcoeiros com as vestimentas tradicionais alemãs como também algumas falcoeiras além de famílias inteiras reunidas para a caça com aves de rapina.

Os falcoeiros foram divididos em grupos levando-se em conta o tipo de aves a serem voadas. Cada grupo foi liderado pelos falcoeiros responsáveis pelas áreas de caça.

Tive a oportunidade de acompanhar um grupo diferente em cada dia do evento: O grupo dos açores, o grupo misto de Harris Hawk, Açor e um Buteo jamaicensis e o grupo das águias. Excetuando as águias (por predarem mamíferos grandes), todos os grupos possuíam cães para apontar aspresas e bater o terreno. Os cães trabalham próximos a seus falcoeiros e ao soltar uma ave para um lance, o falcoeiro grita o aviso ao grupo de caça para que todos manterem seus animais sob controle até a ave ser recuperada. Uma curiosidade, se dá no uso de apitos pelos falcoeiros, estes são reservados apenas aos comandos dos cães, enquanto as aves são atraídas visualmente por movimentos das luvas, lures e alguns chamados.

Foi admirável ver os açores voando atrás de coelhos em um bosque de pinheiros, mais admirável ainda ver como são tranquilos com os cães e falcoeiros com os quais convivem desmistificando um pouco a imagem de aves temperamentais e arredias.

O grupo misto foi bastante animado com lances a corvos e coelhos em campos abertos com alguns locais de arbustos densos. Foi possível, inclusive, ver a caça com o uso de furões, que eram cuidadosamente colocados nos diversos buracos de coelhos se estes tivessem sinais de atividade.

No grupo das águias pude presenciar várias capturas de lebres em campos de plantio de batatas separados por alguns trechos de bosques de pinheiros. Enquanto o grupo de expectadores batia o terreno lado a lado em linha reta (substituindo o trabalho dos cães), os falcoeiros decidiam qual das águias seria a próxima a ser solta. As perseguições eram de tirar o folego, as lebres corriam em busca de refúgio enquanto as enormes águias ganhavam o terreno em uma perseguição direta, alguns dos lances terminaram dentro dos bosques onde o sucesso era constatado pelos guinchos da lebre ao ser capturada. Os lances que terminavam em campo aberto nos presenteavam com todo o vislumbre da captura e da luta que se seguia.

No final do terceiro dia, as presas capturadas durante o evento foram contadas e dispostas em frente ao pavilhão central de Clemenswerth para a vígilia tradicional, a luz de tochas, em respeito aos animais abatidos com tochas e ao som das tradicionais cornetas de caça. Foram contabilizados: 1 veado, 27 lebres, 54 coelhos, 4 faisões e 32 corvos.

Após as caças, no período noturno ocorrerem outras atividades como a Assembleia Geral e eleições do DFO, a palestra da Dr. Vet. Margit Müller, "Falcoaria Árabe e o Desenvolvimento do Hospital de Falcões de Abu Dhabi " e o jantar de encerramento do evento. A palestra expôs ao público a importância da falcoaria nos países do Golfo além do desenvolvimento da medicina de rapinantes, em que a prevenção e educação desempenham um papel crucial. O jantar de encerramento aconteceu após a vigília e contou com 300 participantes. Além disso, houve também exposição de artistas famosos e vendedores de equipamentos de falcoaria no mezanino do hotel.

No quarto dia, a Associação abriu o evento ao público geral para conscientização sobre a falcoaria e preservação de aves de rapina com palestras, exposições e oficina artística para crianças além das apresentações de voo com as aves atraindo um grande número de pessoas.

Graças a hospitalidade dos Geerdsen, pude acompanhar, antes e depois do término do evento, a caça com falcão peregrino. Sr. Gert Geerdsen é um dos representantes da DFO na região norte, não só ajudou a organizar o evento como fez o design do pin oficial. Treinou sua primeira ave de rapina, um gavião-da-europa (Accipter nisus) aos 11 anos de idade e atualmente tem 3 peregrinos machos voando e um casal reproduzindo além de duas seters inglesas que acompanham as aves em campo. Sem o tumulto dos grupos de expectadores é mais fácil de se apreciar a sintonia e esforços envolvidos no ato da captura. Os cães vasculham os campos em busca de qualquer movimento ou som de faisões e perdizes, ao sinalizarem a localização da presa o falcão é solto para subir e centralizar no falcoeiro que em um comando para os cães avançam juntos no esconderijo das presas fazendo com que fujam em voo para que o falcão, quando perfeitamente posicionado, mergulhe para um picado ou captura. É uma coreografia complicada que envolve muitas partes, mas que, quando perfeitamente executada, é linda de se apreciar. A caça com o peregrino é verdadeiramente uma arte única e bela.

Gostaria de agradecer especialmente a família Geerdsen, não apenas pelo convite que fizeram a vários

falcoeiros brasileiros para participarem deste evento, mas também pela imensa hospitalidade e carinho com o qual me trataram fazendo com que me sentisse parte de sua família nesse tempo que passei sob seus cuidados na Alemanha.

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