Falcoentrevista com Lauren McGough
Click : English text
FALCOENTREVISTA
* LAUREN MCGOUGH *
Lauren McGough se apaixonou por águias douradas, quando ela era uma criança e estava determinada a se envolver no esporte da falcoaria - caça com aves de rapina. Ela não poderia encontrar alguém nos Estados Unidos para ensinar-lhe como caçar com uma águia dourada. Então, McGough aplicada foi premiada com uma bolsa Fulbright para passar um ano na Mongólia, onde falcoeiros não só treinam as águias, mas dependem de suas habilidades de caça para a subsistência e de peles.
Lauren no momento está voando uma Águia dourada macho imprint.
1 - O que fez você se interessar na falcoaria?
Eu sempre amei o ar livre e as coisas selvagens, mas não vim de uma família de caçadores. Eu nem sabia que a falcoaria existia até eu ler um livro de Steve Bodio, intitulado "A Rage for Falcons". Eu tinha quatorze anos na época, e foi isso. Eu sabia que tinha de fazê-lo! Alguns meses mais tarde, eu capturei o meu primeiro Red-tailed Hawk passageiro.
2 -- Quem foi seu mentor? (ou mentores e influências?)
Meu mentor foi um falcoeiro chamado Rob Rainey. Ele foi maravilhoso! Ele tinha três filhas, nenhuma das quais eram interessadas em falcoaria, e, como meus pais também não eram interessados, tivemos uma forte ligação. O autor Steve Bodio também se tornou um querido amigo e uma poderosa influência para mim. Eu tive muitos mentores de águias em diferentes países - que é parte do que faz o nosso esporte tão grande. Se você estiver disposto a aprender, existem pessoas dispostas a lhe ensinar. Joe Atkinson tem sido um grande professor para mim sobre voar as águias. Finalmente, Francis Hamerstrom, uma das primeiras pessoas a voar águias nos Estados Unidos, e a única mulher que eu saiba, foi uma inspiração para mim através de seus livros.
3 - Por que você escolheu uma Águia (Golden Eagle)?
Não há nada como uma águia dourada (Golden Eagle - Aquila chrysaetos). O que me impressiona sobre elas não é o seu tamanho, mas o que elas são capazes. Elas podem pegar lebres em uma explosão de velocidade como um açor (Goshawk – Accipiter gentilis) do punho, e elas também podem planar a milhares de metros acima e mergulhar em uma presa como um falcão. Elas são mestres do vento e muitas vezes apreciam rajadas de vento que impediriam outras aves de rapina de voarem. Você pode pensar que uma ave com esse tamanho não seria manobrável, mas elas são incrivelmente rápidas, ágeis e poderosas. Águias douradas são predadoras incrivelmente bem sucedidas - elas podem ser encontradas em todo o hemisfério norte em uma enorme variedade de habitats e subsistindo a uma enorme variedade de presas. As possibilidades para a sua aplicação na falcoaria são quase infinitas.
4 - Você ganhou uma bolsa para ir para a Mongólia. Qual foi o projeto apresentado por você? Quantos anos você tinha?
Eu ganhei uma bolsa Fulbright quando eu tinha 22. Esta é uma bolsa de estudo do governo dos EUA que financia pessoas para realizar um projeto de pesquisa independente em outro país por um ano. A minha proposta era documentar o processo de captura, treinamento e caça às raposas com águias na Mongólia. Embora a prática era bem conhecida, pouco havia sido escrito sobre a mecânica específica da mesma. A maneira que eu decidi documentar a falcoaria foi participando, capturando uma águia e voando-a sob a orientação de um mestre local.
* Bolsa Fulbright tambem no Brasil (http://fulbright.org.br/)
5 - Qual é a sensação de estar no berço da falcoaria com as águias?
É uma experiência surreal e maravilhosa. Você não sabe dizer em que século você está. Este é um lugar onde os cavalos são o melhor modo de transporte, as tendas são sua casa, não há linhas de alta tensão, sem cercas... você poderia estar lá no ano 500 ou 1500 e nada seria diferente. Lembro-me distintamente de estar no topo de uma montanha com o meu cavalo e minha águia e observar alguns petróglifos (gravuras rupestres) nas rochas ao meu lado. Quantas pessoas estiveram no mesmo local ao longo dos séculos com os mesmos companheiros animais, e ficaram maravilhadas com a arte naquelas rochas?
6 - O que você aprendeu lá que você vai lembrar para o resto da sua vida?
Falcoaria une as pessoas, independentemente de raça, sexo, idade ou classe. Eu não poderia ter sido mais diferente dos homens que cacei junto - não tínhamos nada em comum, e as nossas vidas eram quase distintas. No entanto, quando estávamos caçando, isso realmente não importava. Nós gargalhávamos e sorriamos quando eramos bem sucedidos, nós usamos nossas mãos para recriar voos surpreendentes, ajudamos uns aos outros a encontrar águias quando estavam perdidas. Todas essas barreiras eram quebradas quando estávamos caçando. Isso é o que mais me lembro. Ser aceita porque, como falcoeiros, nós eramos iguais.
7 - Como é a caça à raposa na Mongólia? Tente descrevê-la para as pessoas compreenderem esta antiga arte.
Raposas são muito espertas. Como são espécies predadoras também, a natureza selvagem só pode aceitar poucas raposas na região. Nos locais mais populosos, você pode esperar entre 1 a 3 lances por dia, isso caçando o dia inteiro. Em outros locais, você seria sortudo se visse uma raposa. Por esse motivo, o rastreamento é uma habilidade essecial. Os falcoeiros com quem cacei eram incríveis em identificar rastros das raposas na neve e segui-las. As raposas também são tão concientes que você nunca vai conseguir se aproximar muito delas. Elas sempre vão estar a centenas de jardas, ou uma milha, ou mais distantes quando elas vão para espaço aberto. Por esse motivo, é essencial que você dê à águia uma vantagem de altura. O falcoeiro vai galopar com seu cavalo até o topo de um topo a outro das montanhas, para ter uma boa vantagem pelo campo aberto. Os “flushers” (levantadores) galoparão com seus cavalos abaixo, na área plana, para tentar assustar a raposa. Quando você observa uma raposa, geralmente é um pontinho vermelho, fugindo distantemente. É necessário muita musculatura e confiança para que essas águias capturem as raposas – e é por isso que uma águia passageira é voada normalmente, e em um peso mais alto. A águia irá tipicamente partir do punho e ou começará um mergulho baixo e pulsante em direção a raposa, ou se esforçar e conservar sua altura até o ultimo segundo, quando ela mergulha verticalmente como um falcão. Seja como for, é dramático e lindo. Um falcoeiro tendo uma boa temporada pode capturar entre 30-40 raposas. Fora isso, talvez uma pode morder fortemente. Na minha opinião, as raposas são um risco razoável para as águias, e muitas águias se tornam muito proficientes capturando-as de uma forma que não são mordidas.
8 - Você compra suas águias de um criador ou você pega eles da natureza? Que tipo de imprint elas são? Elas estavam em que idade quando você obteve?
Quando eu morava no Reino Unido voei águias criadas em cativeiro. Quando eu estava na Mongólia, eu tinha águias passageiras. Agora, nos Estados Unidos, eu voo principalmente águias que foram feridas na natureza e caço com elas como parte de sua reabilitação. No momento, esta é a única maneira que falcoeiros americanos poderem caçar com águias douradas. Minha águia atual foi tirada ilegalmente do ninho por um homem que tentou mantê-la como um animal de estimação. A águia foi confiscada, mas por ter sido imprintada e, provavelmente não-libertável, ela me foi dada para voar como uma ave de falcoaria.
9 - Quais as presas que você caça com suas águias?
Já persegui Lebre-da-califórnia (Lepus californicus), Lebre-da-Eurásia (Lepus timidus), Lebre-comum (Lepus europaeus), veados (Capreolus capreolus) e raposas vermelhas.
10 - Quais são as suas presas favoritas? (Que você acha que o lance é mais bonito)
Minha presa favorita para águias são lebres. Qualquer espécie de lebre! Cada instinto, cada músculo do corpo de uma águia é feito para caçar lebres. É a presa mais natural, e a que as águias são mais adaptadas. Eu nunca tive que incentivar uma águia para perseguir lebres - elas sempre fazem isso por conta própria. Presas maiores, tais como veados ou raposas, podem ser gratificantes para caçar, mas os voos são muito mais difíceis de orquestrar. Eu posso encontrar dezenas de lebres em um dia, mas seria sorte obter alguns lances em raposas ou veados.
11 - Que tipo de controle de peso que você usa em suas águias?
Eu tento usar rotina e apetite mais do que controle de peso direto com minhas águias, especialmente com as imprints e de criadouro. Claro que, no início do treinamento, é importante ter uma águia na sua melhor resposta de peso. No entanto, ao longo do tempo, acho que o peso pode tornar-se quase irrelevante. Através de muitas temporadas de caça um relacionamento pode ser construído que vai além do peso, e a águia vai voar arduamente, matar, e voltar, porque ela gosta do processo.Eu vim a ter essa noção mais liberal do controle de peso através da minha vivência na Mongólia. Lá, é claro, eles não tem balanças. Voar a ave é totalmente feito na intuição e monitorando o comportamento em vez de números em uma balança.
12 - Às vezes você recompensa o ave na luva ou apenas na isca?
Depende muito da história da águia. Eu sempre faço o trabalho de musculação com a lure antes da temporada de caça, e eu mantenho o lure comigo em uma necessidade de emergência. Chamar muito ao punho ou alimentar no punho pode levar a problemas de agressão. Com águias que têm uma história de agressão, eu nunca chamo para o punho, e apenas alimento-as na presa recém-abatida (caça) ou em uma tigela. Se elas erram o lance, eu simplesmente ando (ou cavalgo) até ela, pegando-a sem alimento (recompensa). No entanto, as águias (especialmente passageiras) que foram bem treinadas, eu chamo com pequenos pedacinhos de carne na luva para recuperá-las.
13 - Para desmistificar medos ou não. Quantas águias você já teve? Alguma foi extremamente agressiva? Alguma já atacou você?
Eu tive o privilégio de caçar com muitas águias douradas. Eu voei doze - incluindo de criadouro, imprint e passageira. Algumas águias muito agressivas me foram dadas, mas com a caça consistente, toda cada águia tornou-se uma boa ave, bem treinada. Eu nunca vi uma águia tão agressiva que a caça não "consertou" o seu comportamento. Elas são predadores tão incríveis, com um grande impulso predatório, que, se você não fornecer-lhes a oportunidade de caçar (especialmente se você está alimentando-os, ao mesmo tempo) pode ser uma receita para a agressão.Também é importante notar que muitos, se não a maioria, do comportamento agressivo - visto nas águias é blefe. É apenas parte de como elas se comunicam e não deve ser levado a sério. Se você ignorar, ou prosseguir como de costume, quando confrontado por uma águia agressiva, o comportamento geralmente desaparece. No entanto, se uma águia descobre que pode te intimidar, ou que pode te forçar a dar-lhe mais comida, então a vida será difícil para ambos.Eu já fui pega pelo chute de uma águia, mas era sempre uma resposta lógica a um erro que cometi. Eu nunca tive uma águia inexplicavelmente agressiva comigo. Eu acho que a sua reputação como aves perigosas é, em grande parte, injusta, a grande maioria das águias que eu voei foram bem seguras.
14 - Alguma vez você já caçou com outras espécies de aves de rapina? Quais? Qual foi a grande diferença que fez você preferir águias?
Eu também voei alguns Buteo-de-cauda-vermelha (Red-tailed Hawk, Buteo jamaicensis) passageiros e um Falcão-peregrino (Falco peregrinus) de criadouro. Eles são ambas espécies fantásticas para a falcoaria, mas eu amo caçar lebres. E as águias são feitas para capturar lebres. Eles são tão proeficientes nisso. Lebres e águias co-evoluíram durante milhões de anos, e são perfeitos ao despistar um ao outro. Estes voos nunca ficam velhos!
A maneira que eu me sinto com uma águia no meu punho, andando no campo atrás lebres, é mágico. O ar cheio de energia e assim que temos um vislumbre do pêlo, começa o caos!
15 - Qual foi a sua ave favorita e por quê?
Minha ave favorita era a águia passageira que eu capturei na Mongólia. Ela foi maravilhosa - uma fêmea grande, corpulenta que voou com cerca de dez libras (cerca de 5 kg). Levou apenas um mês entre quando ela foi capturada e quando ela pegou sua primeira raposa. Ela pegou dez raposas sua primeira temporada. O que eu amei sobre ela é que ela mergulhava sobre a raposa como um falcão. Ela era imprudente em voo e fechava suas asas completamente, ficando na vertical, quando em perseguição.
16 - Quais as aves que você pretende voar ou gostaria de voar?
Se eu pudesse voar águias douradas o resto da minha vida, eu ficaria feliz! Eu sinto falta de voar peregrinos, e espero ser capaz de fazer isso novamente no futuro. Um objetivo que eu tenho é voar uma águia com altanaria. A grande maioria da minha falcoaria com águias é feita saindo do punho, e eu gostaria muito de voar uma com ela altanando, com cachorros para ajudar a levantar as presas. Eu também desenvolvi um amor por camelos-bactriano (Camelus bactrianus). Eram criaturas incríveis para montar quando eu estava na Mongólia. Embora falcoaria em cima de cavalo é sempre divertido e interessante, o meu objetivo é caçar em cima do lombo de camelo nos Estados Unidos um dia.
17 - História favorita de falcoaria?
Quando cheguei na Mongólia e pedi para ser aprendiz de um falcoeiro, os moradores foram, compreensivelmente, céticos. Disseram-me mais tarde que, "Nós não tínhamos certeza do que você realmente ia fazer, mas nós pensamos em te dar uma chance". Depois que eu capturei a minha águia e ela começou a caçar raposas consistentemente, tivemos um lance em particular que foi incrível. Era o voo perfeito logo antes do por do sol após um longo dia - ela pegou a raposa enquanto ela corria, subindo uma colina através do vale à nossa frente. Kukan, meu mentor, e eu galopávamos para a cena. Eu não conseguia parar de sorrir! Ele olhou para mim e disse: "Por que não eu nunca levei minhas filhas para caçar?" Eu pensei que meu coração fosse explodir de orgulho.
Nós gostaríamos de parabenizá-la pela participação no documentário e nós gostariamos de dizer também que somos muito gratas e importante para nós ver uma mulher tão forte como ela que viaja ao redor do mundo voando águias.
MUITO OBRIGADA LAUREN!