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Caçando em grupo: Gavião-asa-de-telha RELATO

A falcoaria é a ciência que utiliza técnicas para adestramento de aves de rapina com a finalidade de captura de presas em ambiente natural; considerada por muitos uma arte devido ao alto grau de sensibilidade e dedicação exigidos para sua prática (ANF, 2015). No Brasil a falcoaria não é proibida, mas também não é permitida. Existem leis especificas que devem ser seguidas para a utilização das técnicas de falcoaria no Brasil. (pode ser um tema para um próximo texto.)


Hoje em dia ouve-se muito falar das empresas de Controle de fauna com a utilização de gaviões e falcões para capturas das mais variadas espécies que causam transtorno ao ser humano.


CONTROLE DE FAUNA

A Falcoaria tem se firmado como uma das melhores soluções aos conflitos de convivência entre os seres humanos e os animais que causam transtornos ambientais, econômicos e à saúde. As técnicas de Falcoaria adestram as aves de rapina para que elas persigam animais que constituem as “pragas urbanas” (fauna sinantrópica nociva), como pombos, pardais, quero-quero, etc. A perseguição feita pelas aves de rapina treinadas apresenta um efeito imediato sobre toda população dos animais indesejados, pois estes se sentem ameaçados e abandonam as áreas infestadas.


Assim, de uma forma simples, limpa e ambientalmente correta, é possível contornar conflitos criados pela própria atividade humana sem recorrer a métodos condenáveis.


O Falcoeiro ou adestrador tem o papel de treinar a rapina para que ela possa capturar presas potenciais e em seguida trocar essa presa por uma recompensa, que geralmente é um pedaço de carne.


O retorno que o Falcoeiro recebe por todo o trabalho e dedicação a uma ave de rapina e vê-la voar com tamanha destreza e manobrabilidade. As aves de rapina adquirem durante os dias/anos muita experiência de voo, aprendem como suas presas escapam, qual a melhor forma de capturar, como surpreende-la e se for Parabuteos unicinctus como trabalhar em grupo.


PARABUTEOS UNICINCTUS

Os Parabuteos evoluíram para viver socialmente e segundo Jennifer Coulson em seus estudos eles trabalham em grupo devido aos locais desafiadores em que vivem na natureza. Quando mais desafiador é o local, maior o grupo de Parabuteos.


Uma interessante característica dos P. unicinctus é sua capacidade de realizar caçadas cooperativas, onde dois ou mais indivíduos atacam juntamente a mesma presa (Bednarz, 1988)


Os asa-de-telha quando formam um grupo também se cuidam, segundo relatos de Jennifer ela visualizou um Parabuteo provavelmente machucado pousado enquanto os outros caçavam, ao abater a presa eles levavam a comida para a suposta ave machucada. E Robson Silva e Fábio Olmos em seu artigo escrito em 1997 relataram que ao capturar um Parabuteo na armadilha para estudos viram que 4 dos gaviões avistados pousaram próximo a armadilha enquanto um macho adulto ficou pousado em um poste. Quando o imaturo ficou preso na armadilha e os pesquisadores se aproximaram o macho adulto vocalizou alto, causando a fuga dos demais.


POMBOS

Os pombos evoluíram para fugir dos seus predadores. Lembramos aqui que o F. pereginus o animal mais veloz do mundo é um predador natural de pombos, logo os pombos tem que ser adaptados a fugir desse predador sagaz e rápido. Uma das habilidades que vemos nos pombos além de voar rápido e manobrar com destreza e que suas penas se soltam com muita facilidade o que faz com que isso seja uma adaptação para que ele fuja. Muitas vezes ao lançar o Parabuteo no pombo ele fica com muitas penas nos pés e olhando para os mesmo como quem diz: PEGUEI. E o pombo já está longe.


UM DIA DE CONTROLE DE FAUNA COM USO DE TECNICAS DE FALCOARIA

Começamos um controle de fauna nociva (Pombos) em um Centro de Convenções composto por 2 galpões grandes anexos a um prédio do mesmo tamanho dos galpões só que com 2 andares.


Como sempre fazemos vistoriamos todo o prédio no primeiro dia de Controle para saber onde estão todos os ninhos e os pombos que nidificam no local. A estrutura desses galpões nos enganou na hora da proposta inicial que acreditávamos ter menos pombos do que os que vimos quando iniciamos o controle.


Nenhum dia no Controle de fauna é igual, as aves nos surpreendem na solução dos problemas que elas enfrentam nas capturas, nas táticas utilizadas e dessa vez por ter conversado muito com a Jennifer Coulson comecei a reparar mais nas habilidades sociais de um Parabuteo. E é por isso que decidi escrever esse texto.


As aves voadas pela Falcontrol S.A tem em média 2 anos para mais de experiência em Controle, todas estão treinadas para noturna, carhawking, controle em galpões, controle em áreas abertas.


O plantel é bem grande, mas aqui vou falar somente de três aves (Parabuteos) utilizadas nesse Controle. Brisa, Sakura e Tanatus.


ONDE TUDO COMEÇOU

Animais sociais forma grupos que podem variar de temporários a permanentes. Dependendo da natureza dessas relações que se desenvolvem entre esses indivíduos o resultado destas relações vai moldar o padrão comportamental destes animais.


Brisa e Sakura são irmãs da mesma ninhada (FUKUI 2013) e foram treinadas juntas pelo Falcoeiro Dorival Lima e Eduardson Elias respectivamente. Elas possuem uma pequena diferença de tamanho e uma grande diferença de comportamento. O nome de Brisa foi dado por ela ser calma e serena como uma brisa.

Na primeira temporada como todos os Parauteos jovens elas brigavam às vezes e foi preciso voar sempre juntas para se aceitarem. Tanatus chegou com alguns meses de diferença em Maceió.


Brisa sempre atacava a todos durante voos para mostrar sua superioridade. Sakura sempre tentava se defender de Brisa e a derrubava dos poleiros no campo, até que um dia Brisa mais leve e um pouco menor imobilizou Sakura no chão mostrando sua dominância. (Fig 1) La leyenda del Áquila de Harris (Manuel Diego Pareja & Óbregon de Los Reyes) (pag 34)


O TRABALHO EM EQUIPE E A DOMINANCIA DE BRISA

“Grupos de animais freqüentemente necessitam tomar decisões comuns, por exemplo, sobre quais comportamentos realizar, quando realizá-los e em qual direção tomar, entretanto pouco é conhecido sobre como grupos o fazem.” (Conradt e Roper 2003)

Tanatus sempre seguiu Brisa no campo e é a primeira vez que eles fazem um Controle em galpão juntos.

Ao sair das caixas de transporte Tanatus e Brisa sempre fazem uma vocalização bem baixinha um para o outro como se estivessem conversando. E Sakura fica normalmente em posição de procurar os pombos e não está nem ai para a “conversa”.

Soltamos as três aves no galpão e eles tomam seus destinos, cada um para o lado onde estava visualizando o pombo.


É notório que Brisa é a Alfa do quase grupo. Sakura é rebelde e às vezes não participa das caçadas. Prefere caçar sozinha, mas sempre tem êxito.

A tática utilizada por Brisa e Tanatus é: Tanatus se posiciona (às vezes se esconde e às vezes fica imóvel na viga) no final do galpão onde não tem pombos e Brisa voa bem rente ao teto do galpão na área central até chegar a uma viga antes dos pombos (que neste momento estão pousados). Quando ela vê que é hora, ela se joga em direção aos pombos que saem voando freneticamente em direção ao final do galpão e Tanatus está lá esperando e se joga em cima dos pombos ou voa em direção a eles.

Algumas vezes essa tática deu certo para Tanatus segurar o pombo e em outras Brisa teve que voltar e começar tudo outra vez.


Quando começa a falhar muito está tática Brisa faz uma vocalização fina e as vezes voa para cima de Tanatus como se dissesse: Presta atenção!



Tatica 2: Outras vezes eles encurralam os pombos Brisa fica em uma viga, os pombos na viga do meio e Tanatus na viga oposta a de Brisa. Brisa se joga nos pombos levando os mesmos até Tanatus que se joga para baixo.


Claro que essa é somente uma das táticas utilizadas por eles para a caça neste galpão.


Visivelmente vemos que os Parabuteos utilizam-se do sprint do macho e da constancia de voo da fêmea para a caça. E que os dominantes tem sempre a postura de estar na frente da caçada.


A DISPUTA PARA SER A ALFA

Uma hierarquia de dominância ocorre em Parabuteos, em que a fêmea madura é dominante (ALFA), seguido pelo macho adulto e, em seguida, o jovem de anos anteriores.

Aconteceu uma coisa atípica neste dia. Um pombo se acuou no canto do galpão e quando olhamos para cima foi um boliche de Parabuteo para este canto e só ouvimos o barulho do engavetamento. Não sabemos ao certo quem pegou o pombo, quem chegou primeiro e quem bateu em quem.

Ouvimos a vocalização das aves, o pombo voando desnorteado e Tanatus apareceu se ajeitando. Logo depois apareceu Brisa e Sakura disputando território. Asas abertas, cabeça ouriçada, vocalizando alto, e lançando garras para a oponente. Por fim Sakura saiu de cena e Brisa foi para o local mais alto do galpão e ficou durante uns segundos vocalizando. Demonstrando assim quem é a ALFA do grupo e pondo fim ao trabalho do dia.


Em um estudo feito por James W. Dawson e R. Willian Mannan existem vários tipos de hierarquias de dominâncias em grupos de Parabuteos e em 11% dos grupos estudados por eles existia uma segunda fêmea dominante (alfa-2) que era subordinado a fêmea alfa

e dominante sobre o macho alfa.


Quem sabe avaliamos as características durante esta temporada que se inicia e tiramos uma conclusão de como esse grupo se comporta agora mais maduro. Faremos a tradução deste artigo Dominance hierarchies and helper contributions in Harris Hawks para a próxima postagem.


REFERENCIAS:

Oliveto, A.C et all (2015) A arte da Falcoaria. Brasil pp 18

Bednarz, J. C. (1988). "Harris' hawk subspecies: is superiorlarger or different than harrisi?". in Proceedings of the southwest raptor management symposium and workshop. Washington, D.C. pp. 294–300.

Conradt L, Roper TJ (2003) Group decision –making in animals. Nature 421: 155 – 158

James W. Dawson e R. Willian Mannan DOMINANCE HIERARCHIES AND HELPER CONTRIBUTIONS IN HARRIS' HAWKS



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