Relato de uma reintrodução - Coruja- de - Igreja (Tyto furcata)
Tyto furcata (Temmink, 1827)
Nome popular: Coruja-de-igreja, rasga mortalha, suindara
Habitat: Campos, savans, bordas de mata, áreas urbanas e rurais.
Alimentação: roedores e insetos
Tyto furcata (Pedro Marques 2012) - Este individuo não é o reabilitado
Na data de 06.07.2015 fora avistadas duas corujas filhotes em local urbano que supostamente deve ter caído do ninho na localidade do Posto de Saúde de Luzerna, localizado no bairro Estação Luzerna, no município de Luzerna-SC. (Foto 1).
Com a devida autorização do Policial Ambiental de Tatiano, as 2 corujas, da espécie Tyto Furcata, foram retiradas do local para a devida tentativa de reabilitação.
Características: As corujas não aparentavam lesões superficiais. Uma delas possuía em média 51 dias de vida (coruja maior) sendo que a outra, bem menor, teria o aspecto de 43 dias de vida. Por dedução que ambas nasceram no mesmo período, subjuga-se que o caso da menor seria o caso de desnutrição severa, o que pode ser frequentemente visto no mundo dos rapinantes por conta da escassez de alimento disponível e também por conta de ser comum ter um filhote dominante.
Do Alimento: Codornas, e sempre que possível frescas (quando disponíveis pelo criador), mercol (produção própria que atende as exigências necessárias para a garantia de um alimento 100% saudável).
Observação: Importante disponibilizar grande de quantidade de alimento diariamente e/ou até que a satisfassa, para assim pode ter uma formação rápida e perfeita das penas. Manter o peso da ave alto é importante também para mantê-a aquecida do frio intenso de nossa região.
Do Procedimento: O procedimento escolhido foi o que mais se aproximou do método “caixa”. Quanto menos o animal tiver contato com o ser humano melhor e mais rápida é sua reabilitação, pois evita o stress, que pode ocasionar a baixa de imunidade podendo surgir doenças oportunistas do próprio histórico alimentar e para também manter seu instinto de caça preservado.
O método caixa consiste em uma caixa de madeira, com fundo de telhas (para facilitar a limpeza com água) que se situe em local alto. O alimento é colocado ali com um pinção sem o animal perceber a presença humana. A limpeza do recinto é feita da mesma forma, intoduzindo a mangueira de longe e liberando lentamente água corrente para retirar os detritos. Então, quando a ave sentir-se pronta ela mesmo irá procurar sua liberdade ou se adpatar aos arredores sem nenhum impedimento para sua soltura. (vídeo em anexo)
Por estarmos em local urbano, tal método seria aproveitado parcialmente, pois, o perímetro urbano pode trazer riscos novamente ao animal e ainda sua soltura deverá ser justificada e/ou devidamente acompanaha pelo órgão compentente, no caso Polícia Ambiental, sem contar que certamente o animal voltaria ao local de soltura devido o alimento, o que poderia ocorrer uma adaptação com humanos, podendo trazer riscos para o próprio animal.
No mundo da falcoaria temos o que chamamos de “imprint”, que se justifica na associação do animal com o alimento trazido pelo ser humano, tornando-o assim dependente, pois leva-o a crer que poderá ser sua “mãe, irmão” ou até a prórpia ave pode pensar que é humana. Sendo assim, ele perde o instinto de caça e ainda facilita a aproximação do ser humano. Os filhotes, são mais sucetíveis ao “imprint” total pelo fato de não terem tido contato com o mundo selvagem anteriomente.
Para o caso em tela, tentou-se reproduzir um ambiente sem muito contato com o ser humano, fora selecionado um viveiro todo em aço, com medidas de 1,90 de altura por 1,30 de largura com o fundo vazado para poder ter a correta limpeza. O viveiro fora parcialmente coberto (Foto 2), para tentar evitar o máximo do contato visual com o ser humano. As corujas em tela, não se alimentavam sozinhas, o que era entregue por um pinção através de uma fenda que dava acesso à da porta do viveiro (Foto 3), sendo observado o comportamento por uma outra abertura pequena na lateral da lona (Foto 4).
Eram tratadas duas vezes diariamente, com 1 codorna e meia cada refeição, sendo esta picada em pedaços com seus ossos triturados manualmente, sendo de extrema importância conter ossos para a absorção do cálcio em sua dieta que são posteriormente recugitados. Ainda, era deixado uma boa porção de alimento disponível para uma possível adaptação.
A coruja menor, apresentava estado severo de desnutrição, sendo possível a percepção do osso quilha, o que justifica o estágio avançado de sua debilidade. Apesar de dar uma atenção especial e alimentá-las individualmente, infelizmente não resistiu. Faleceu no segundo dia, 07/07/2015, procedendo conforme o orientado. A outra coruja maior, continua em processo de pela Polícia adaptação, com sucesso.
No terceiro dia: já empoleirou perfeitamente na parte superior do viveiro sozinha (Foto 5).
No quinto dia: Já se alimenta sozinha sem a necessidade da utilização do pinção. A comida era deixada no poleiro e por observação constatou-se que comeu toda porção disponível.
Da adaptação para soltura: Após a formação de todas as penas, a coruja encontra-se fisicamente apta a voltar à natureza. Porém, faz-se necessário ativar seu instinto de caça novamente. Sendo isso necessário, necessita-se a redução lenta e gradual de seu peso para inicar os testes. Incialmente fora colocada um mercol inteiro morto para verificar sua habilidade com presas inteiras. Como fora bem sucedida passamos para a fase da presa viva. Fornecemos um rato que se mechia parcialmente para uma possível captura. Fase concluída com sucesso. Constatou-se então, que a presença humana era uma ameaça onde a agressividade com os humanos era fortemente evidenciada, onde o objetivo fora alcançado com relação ao não-imprint da rapinante.
Da soltura: A soltura fora realizada em 16/08/2015, no qual foi autorizada por telefone pela própria Polícia Ambiental, em área rural. (foto 6, 7 e 8).
* ATENÇÂO - REABILITAÇÕES DEVEM SER FEITAS POR PESSOAS CAPACITADAS E COM LICENÇA DO ÓRGÃO AMBIENTAL. ** SE VOCÊ VER ALGUMA AVE FORA DO NINHO, CONTATE O ÓRGÃO AMBIENTAL DE SUA CIDADE.
* todas as fotos são do arquivo pessoal de Thelleen Balestrin
** Agradecimento Policial Ambiental de Tatiano.
Vídeo realizado pela ANF desmontrando a reabilitação e reintrodução de 4 Corujas de Igreja.