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O uso da falcoaria na reabilitação de aves de rapina

A reabilitação de animais de vida livre é um processo complexo fundamentado em conhecimentos interdisciplinares das áreas afins às ciências biológicas e veterinárias. Esse processo deve permitir que um animal selvagem, em condição pós-trauma, seja condicionado (ou recondicionado) à vida no ecossistema, onde deverá interagir com o meio e com outras espécies, além da sua própria. No caso particular dos predadores de topo de cadeia trófica, dos quais o ambiente exige perícia para situações de caça e impecabilidade de movimentos, esse processo é ainda mais complicado. É comum que aves que passaram por longos períodos em cativeiro necessitem de exercícios para voltar a voar adequadamente. Outra situação muito comum é a perda da habilidade de caça dos animais cativos. No que concerne ao escopo da ornitologia, a falcoaria surge como uma excelente ferramenta para reabilitar aves de rapina – os grandes predadores do grupo das Aves.


Sendo, em essência, a “arte de treinar falcões para caça”, a falcoaria e suas principais técnicas – hoje utilizadas em prol do meio ambiente e da conservação da natureza – podem auxiliar na reabilitação de urubus, gaviões, falcões e corujas.


Constatou-se que rapinantes treinados utilizando as técnicas de falcoaria tradicionais eram mais aptas do que indivíduos da mesma espécie exercitados em gaiolas e que a melhora da aptidão alcançada com o primeiro método aumenta a probabilidade de que aves cativas sobrevivam após a soltura na natureza. (HOLZ et al, 2006)


Seja através de condicionamento físico, seja pelo desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de caça (literalmente, relembrando ou ensinando a ave a ser um predador efetivo), a falcoaria prepara essas aves para a vida pós-soltura, onde apenas os indivíduos mais aptos sobrevivem às alterações, ao mundo selvagem.


Enquanto arte milenar, a falcoaria envolve desde o enriquecimento ambiental adequado e a correta projeção dos recintos para aves de rapina (propiciando a aclimatação em segurança), até trabalhos de adequação comportamental individual e, mesmo, em duplas (copla) ou grupos de aves.


Com a falcoaria, mesmo aves mutiladas e sem capacidade de voo, podem ser condicionadas – sempre de forma ética, preservando a qualidade de vida do animal. As atividades de reabilitação desenvolvidas com o auxílio de técnicas de falcoaria visam a recuperação da função e do comportamento das aves de rapina, seja para a soltura ou para adaptação a uma nova realidade. Através dessas técnicas essencialmente simples, aves que outrora teriam a eutanásia como destino (aves sem asa, sem patas, cegas) podem ser utilizadas em programas de reprodução em cativeiro ou de educação ambiental – sensibilizando a sociedade quanto à importância dos predadores de topo.


No Brasil, instituições públicas e privadas favorecem a reabilitação das aves de rapina, utilizando a falcoaria com o apoio dos órgãos ambientais competentes. Patrimônio cultural imaterial da humanidade, segundo a UNESCO, a falcoaria deve ser não somente utilizada para fins de reabilitação, mas respeitada e reconhecida como uma técnica eficaz de reabilitação de aves de rapina no mundo moderno.


O Falcoeiro e/ou o reabilitador tem uma ligação tão forte com a conservação e preservação das especies de aves de rapina que a maioria das ONGS e Associações de Preservação estão ligadas diretamente ou indiretamente a eles. Como exemplos podemos citar o caso das Harpias (Brasil) Condor e Peregrinos (USA) as populações destas aves estavam em declinio pela ação humana de caça, desmatamento e envenenamento. Os projetos montados por equipes multidisciplinares que incluem Falcoeiros obtiveram sucesso na reprodução dessas aves e em suas posteriores solturas na natureza.


Grupo Harpia que trabalha na reabilitação de aves de rapina e algumas das aves que estão sendo reabilitadas.



* Quer saber a respeito de reabilitação com técnicas de Falcoaria que tiveram sucesso, acesso o site do GRUPO HARPIA, S.O.S Falconiformes, PROJETO HARPIA, Peregrine Fund e vários outros.


Fotos: Grupo Harpia, Falcontrol e Mariana Janiszewski Texto: Laura Lindenmeyer

Edição: Alessandra Oliveto e Jessica Tulio

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